quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Cidade da meia-noite

Seis horas, marca o relógio da sala... em tardes de inverno, o indicio de que a luz do dia começa a esvaecer-se, perante aos olhos que ansiosamente aguardam esse ato final do rei sol. Minutos finais de uma longa jornada que acaba e a contagem regressiva para os tradicionais e costumeiros cumprimentos à lua. 

Conforme as sombras surgem nas ruas, os postes também acedem-se, tentando manter aquele teor aceitável e necessário que a luminosidade urbana exige. Tudo é mais belo durante a noite. As pessoas, os lugares, os cartões-postais, tudo se ressalta sob o manto negro que o céu estende sobre nós. A noite em si é bela. 


A noite traz inspirações e aspirações, propícia ideias novas e reforça antigos conceitos, faz companhia até ao mais solitário dos seres e presenteia com o silêncio os mais agitados. Na noite os maiores segredos são revelados.

O perfume noturno se torna mais intenso conforme adentra a madrugada. Os amantes regorjeiam seus prazeres mais cálidos, mais vívidos... um uivo dos apaixonados. Benditas sejam as criaturas que a noite educou, sagradas em todas as suas profanidades... que a hora não passe... e todas as luzes se apaguem.


No breu da escuridão total escondem-se fantasias enraizadas em cada um de nós, segredos submersos que vêm a emergir num piscar de olhos, a desforra das feras noturnas, as nossas feras revelando os nossos mistérios, nossos desejos secretos. Porque assim se faz a noite, de sensações, de cheiros, de doces sabores e sensíveis ruídos. Tudo se prova na noite, tudo se permite. Estamos aqui para contempla-la no melhor dos seus prazeres.

Se em algum momento a luz for necessária, não acenda lâmpadas, acenda velas, pois elas sobrevivem apenas durante um breve momento, nada podem contra a noite e são vulneráveis à um simples soprar do vento. Permita que a noite fique o máximo possível... e ainda que o crepúsculo indique o início de um novo dia, seja grato à noite que passou. 


Volte para casa, feche as portas e janelas, use as cortinas se necessário for. Em toda ausência de luz existe um pedaço da noite, do breu amigo que ali se reproduz. 

Mesmo durante o dia, passo as horas calculando o tempo e esperando o retorno da noite. Ainda que demore, irei aguardar, até que as luzes se apaguem novamente. Só assim poderei vivenciar o que há de melhor no mundo, o que há de melhor em mim. 

Venha noite, sou cria tua e anseio por ti.

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