segunda-feira, 11 de julho de 2011

O menino de bicicleta

Uma infância repleta de brincadeiras e divertimentos... amigos incontáveis na escola, no bairro, em casa, na rua, ou onde quer que fosse... todos tão pequenos, tão livres... reunidos para jogar vôlei, queimada, bobinho, mãe da rua, pega-pega, esconde-escode, taco, adoleta, patins, bicicleta, jogos de tabuleiro... ou simplesmente pegar uma caixa de giz e usar a rua como papel,  deixar a criatividade fluir... meninos e meninas... amigos...

As vezes sentar e conversar sobre os desenhos que passaram durante o dia, falar sobre o capitulo das novelinhas que irão passar a noite, um filme irado que todos querem assistir... as vezes tem lição de casa, então a conversa é só um “oi” como quem diz “to aqui”... as vezes não da  tempo nem do “oi”, mas sem problemas, eles entendem, sempre estarão ali... grupos, clubes, times... ou só “turma”...  isso, a turma.

Engraçado pensar que os anos passam tão rapido, mas quando se é criança parece tão demorado... é a pressa em crescer, em ser grande, em ser “gente grande”, o mundo fantástico dos adultos.  Todos têm sonhos, nas brincadeiras demonstram o que desejam ser um dia... médicos, professores, advogados, jogadores de futebol, empresários... querem uma casa grande, carros, viagens, passeios, objetos, lugares, conforto... todos sonham... e sonham alto...

Quando criança, andar de bicicleta era a brincadeira mais próxima de ser um motorista, fingir ter a própria moto ou dirigir um carro... o único momento em que se escolhe o próprio caminho, o seu caminho, uma escolha sua... isso faz parte da coletânea de sonhos... sonhos de um garoto bobo que pedala enquanto ri...

Os anos passam, a escola já não é mais tão divertida, aumentam as responsabilidades, são necessárias escolhas, decidir o futuro, não mais “de mentirinha”… escolher companhias, escolher caminhos, quem vai seguir adiante, quem vai ficar pra tras... todos terão a mesma chance, ou talvez não... quiçá tudo fosse tão fácil de aprender... como andar de bicicleta... pedalar, sentir a emoção do vento no rosto, sem se preocupar.... se cair, levanta... e começa a pedalar outra vez...

Ele estudou, fez faculdade, morou em outra cidade,  se formou, viajou, viveu e aprendeu muito sobre como ser dono de si... o menino agora é homem... e volta a rua onde cresceu, procurando velhos amigos e novas histórias, novos sonhos... descobrir qual é o verdadeiro presente de quem fez tantos planos para o futuro. Muitos tiveram histórias precidas, muitos estão formados, com suas profissões, suas casas, seus carros... mas nem todos seguiram por esse caminho de “sorte”, se assim pode-se dizer... 

Hoje há amigos que não tiveram a chance de continuar os estudos, não por falta de vontade, mas porque a vida não permitiu... outras obigações surgiram mais cedo e os impediram de realizar aqueles “pequenos sonhos” que eram tão grandes... o triste em tudo isso é encontrar pessoas que eram da turma, do clube, do grupo em situações que quebram qualquer sorriso... muitos desesmpregados, sem previsão alguma de um futuro bom, sem confortos, sem regalias, sem chances de conhecer o mundo la fora, fechados apenas no circulo que os mantêm vivos... 

Um amigo vende doces no ônibus pra ajudar nas contas de casa... uma amiga faz faxina ao invés de ser professora como desejou um dia... muitos estão trabalhando em fábricas ou no telemarketing para poder sustentar suas famílias, já são casados (ou não), mães e pais, com seus próprios filhos, não mais os bonecos de plástico. Até aí tudo bem, eles estão se virando... trabalham e ganham seu dinheiro de forma honesta, escolheram outros caminhos, só isso... 

Mas quando se vê alguém da turma catando lixo na rua pra poder ter o que comer... aí sim, questiona-se até que ponto todos tiveram a mesma chance, a mesma sorte... nada mais triste do que ver antigos companheiros, antigos sonhadores, em situações tão infelizes... seria fácil dizer “ele/ela escolheu”, mas no fundo, sabe-se que talvez eles não tiveram escolha... nem as mesmas chances e oportunidades que os outros... 

Ao voltar pra casa, o homem olha para a bicicleta esquecida na garagem, com pneus muchos e algumas partes enferrujadas... lembra de quando era menino e, por um momento pensa que tudo na vida poderia ser tão fácil quanto andar de bicicleta... era só se equilibrar e pedalar... 


… quem dera fosse fácil assim...   

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