Uma pessoa normal, é assim que o resto do mundo me vê. Saio todos os dias de manhã para trabalhar com minha roupa caricata de um ratinho de escritório. Olhar sério, esbanjando uma serenidade que guardo todas as noites no armário quando volto para casa. Tudo nos conformes até as 18h30, quando o apito da empresa soa o fim do expediente.
Nas ruas escuras sou mais do que uma figura patética do tal capitalismo globalizado. A noite todos são informais, por quê eu seria diferente? Das peças sociais, mantenho apenas a gravata, não para o uso tradicional, mas para algemas em um momento propício. Roupas trocadas, cabelo arrumado, calça apertada, perfume borrifado, um creme corporal e um pouco de manteiga de cacau para os lábios ressecados, sem mais adereços desnecessários, afinal, as atenções devem ser direcionadas ao meu estado natural, não ao forjado pelos utensílios e penduricalhos espalhados.
Agora sim, o personagem diurno já se despediu em definitivo e entra em cena a fera noturna, pronta para a caça.
Em casa, estou com meu namorado e seu novo parceiro sexual, sim porque não me limito ao restrito ou ao não, gosto de experimentar novas sensações e se permito a mim, permito a ele também. Observo a nova figura desse relacionamento aberto. Corpo definido, tatuagens expressivas e decifráveis, olhar encantador. Engana-se quem pensa que me atento apenas as curvas musculares, ao contrário, mergulho nos olhos, na troca de informações oculares. Meus interesses cruzam a fronteira e já desejo o novo parceiro. Ando pela sala como se dançasse uma valsa à três. Os convidados especiais ainda não chegaram, mas a campainha não tarda a tocar.
Todos aos seus postos aguardando, calados e excitados. Conto mentalmente a presença de seis ou sete pessoas talvez, um ou dois, provavelmente averiguando os quartos. Ligo o rádio, abaixo as cortinas, apago as luzes, acendo as velas. As peças de roupa caem ao chão, a gravata - como prometido - amarra punhos e aproxima corpos, com certa precisão. O ambiente sussurrante convida à espasmos de coitos consumados. Ainda sinto como se fosse uma valsa, só que dessa vez os bailarinos se entrelaçam, se enroscam e se espalham pela casa, em uma dança que não tem hora para acabar.
Sobre a cabeceira da cama, colo um bilhete ao lado do despertador: "Querido, me acorde às 7h00 tenho reunião". A partir das 8hs, a fera noturna voltará ao armário. Mas isso só até que a lua reine novamente. Afinal, sou fruto do dia, mas sou cria da noite.
FODA, Jeff. Ficou lindo. Adorei conhecer essa fera noturna, filho de Baco.
ResponderExcluirParabéns (e obrigado por participar)
O prazer foi meu Celo, não podia ficar de fora dessa =P
ExcluirGostei do blog. Bonito. Delicado. Até.
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